3 de fevereiro de 2011

Virose do ego

Ontem faleceu em um consultório médico, do posto de saúde do bairro Saco Grande, na cidade de Florianópolis, a menina Mariana Tessari do Prado, de três anos de idade. As causas da morte da menina estão sendo apuradas e ainda aguardam um laudo definitivo, que será elaborado pelo Hospital Infantil. O falecimento da criança causou desconfiança na população. O acontecimento foi amplamente divulgado pelos noticiários. Há cinco meses atrás, João Manoel Batista, 53 anos, morreu no pátio do local, aguardando atendimento.

No dia do ocorrido, a pequena amanheceu apresentando vômitos e diarréia, sendo levada às pressas para o posto de saúde. Os pais e a menina chegaram por volta das 8:30min e foram atendidos perto das 10:00h. O médico, Igor Tavares da Silva Chaves, disse que criança apresentava um ‘quadro bem clássico’ de virose gastrointestinal e estava bem no ‘colo da mãe’, no momento da consulta. Após o ‘exame ambulatorial’, o clinico receitou os medicamentos Plazil (p/ o vomito) e Dipirona (p/ a febre); dispensando-os.

Por volta das 13:30 min, os familiares retornaram ao local, porque o quadro clinico da menina piorou, depois que ela tomou os medicamentos. Ao chegar no posto, a criança estava desidratada, com falta de ar e pouca oxigenação no corpo. Em entrevista ao jornal Hora de Santa Catarina, o médico informa que, no consultório, foi dado à criança soro e oxigênio, mas a menina teve uma parada cardíaca, vinda a óbito.

A prefeitura de Florianópolis imbricou uma sindicância para apurar as causas do óbito da menina de três anos de idade no consultório médico do posto. Segundo informações da imprensa local, a família de Mariana passava dez dias de férias na capital. A menina foi enterrada ontem na cidade de Ponte Alta, município pertencente à região serrana do estado. O Instituto de Pericías está elaborando um laudo que será encaminhado a Secretária de Saúde para ser anexado a sindicância.

Ontem, em entrevista ao Jornal do Almoço, o secretário da saúde, João José Candido da Silva, afirma que foram adotados procedimentos cabíveis: “Nós estamos em constante apuração, uma morte é uma tragédia. Queria fazer uma correção: ela não morreu da medicação. A secretaria tem todo o sistema computadorizado. Nós temos os registros de todos os procedimentos médicos. Ela tinha todos os sintomas de uma virose comum nessa época, foi medicada e orientada a mãe. A secretaria tem 2.300 funcionários que trabalham com amor”, declarou o secretário um dia após a repercussão do caso.

Erros Primários. Segundo reportagem da revista Isto É, um estudo realizado pela Escola de Enfermagem da USP de Ribeirão Preto, feito em novembro do ano passado, revela que o índice de erros na hora de dar os medicamentos aos pacientes é alto, colocando em risco a vida dessas pessoas ‘sorteados pelo destino’. A pesquisa mostra que 77,3% dos enganos são relativos ao horário de administração dos remédios, dados uma hora antes ou uma hora depois do horário correto.

O estudo elaborado pela Escola de Enfermagem foi feio em cinco hospitais paulistas. A pesquisa indica que os erros de dosagem correspondem a 14,4% das ocorrências. De acordo com a matéria, o problema hospitalar é mundial. Um levantamento parecido foi realizado em 19 hospitais da Inglaterra. O estudo revela que, de cada dez prescrições, uma contém erro. A matéria relata que os hospitais estão tentando minimizar esses erros hospitalares.

Negligência. Casos de prescrições inadequadas e erros primários nos procedimentos ambulatoriais é um fato que permeia a realidade de alguns postos de saúde, hospitais e consultórios médicos de Santa Catarina. Apesar da gravidade e urgência dos fatos, a fiscalização geralmente não faz parte da rotina desses estabelecimentos.

No mês de maio do ano passado, em Joaçaba, município do meio-oeste, duas mulheres, de 54 e 60 anos, passaram mal e tiveram uma parada cardiorrespiratória, após uma endoscopia mal sucedida em uma clinica particular da cidade e vieram a óbito. Foi encontrado no lixeiro do consultório um anestésico (Xilocaína) com o prazo de validade vencido, aplicado para lubrificar o endoscópio - instrumento utilizado no diagnostico de anomalias gasstrointestinais.

De acordo com a Vigilância Sanitária, o médico gastroenterologista, Denis Conci Braga, 31, responsável pelos exames, tinha autorização apenas para manter o consultório e não podia realizar exames de endoscopia no estabelecimento. A Vigilância Sanitária lacrou as portas da clínica. No mesmo dia, cinco pessoas também passaram mal após o procedimento. Braga, proprietário da clínica e responsável pelos exames, foi preso e autuado por homicídio culposo sem intenção de matar. Ele pagou fiança de R$ 2.500 e está respondendo o processo em liberdade.

Prognóstico. Analisando bem, o número de mortes e sindicâncias diminuiria a passos largos se houvessem fiscalizações constantes e consistentes nos estabelecimentos de saúde de Santa Catarina. São deslizes políticos primários que não estão a altura da carga tributária paga a duras penas para obter o atendimento digno. As pessoas que recorrem a clínicas particulares, o quadro piora, porque são duplamente tributadas.

Falhar é realmente um ato humano. Mas é inaceitável não corrigir e prevenir os erros. Existe uma palavra no dicionário chamada fiscalização. Ela assegura a população de que os serviços públicos estão funcionando dentro das normas. É como o trabalho de um policial. No entanto, há órgãos competentes dentro da administração publica para realizar esse favor em prol da cidadania. Está na hora de vacinar as viroses do ego e medicar um câncer: a burocracia.

2 de fevereiro de 2011

Semestre Legislativo

Começou o semestre político no Congresso Nacional. Senadores e deputados calouros encheram de vivacidade os corredores da casa legislativa, que no semestre passado ficou jogada às traças devido ao pleito eleitoral de outubro. Metade dos eleitos são marinheiros de primeiro embarque. Sangue novo ululando nas veias do Congresso. Muitos chegaram querendo mostrar serviço, ansiosos em pincelar o primeiro canetaço. Outros, fazendo graça para provocar o riso. Mas a unanimidade entre os neófitos, claro, era distribuir calorosos autógrafos. É importante sair bem na capa dos impressos e no fugaz álbum de fotografias do eleitor.

“Esse repórter me atazanando os neurônios novamente. Mas hoje falei bonito. Será que vão me dar pelo menos uma notinha de capa?” Devaneiam nos corredores alguns parlamentares veteranos de uma ala mais dantesca da casa. Um plenário cada vez mais colorido e eclético a cada legislatura empossada. Garbosos marajás, boxeadores, empreiteiros, juristas, professores, religiosos, jogadores de futebol, ruralistas, até um ex-BBB. Todos ávidos em exercer o sagrado dever de representar a população na primeira semana legislativa de 2011.

Ontem, numa animosidade impar, os congressistas elegeram os presidentes da Câmara e do Senado, 'legitimando' a confiança das urnas. A Câmara Federal ficou a cargo do deputado Marco Maia (PT-RS). Em nome do 'sacrificio pessoal', José Sarney (PMDB-AP) reassumiu a presidência do Senado, superando os anos de legislatura de Ruy Barbosa, o águia de Haia. Nos próximos dois anos, Sarney trilhará tranqüilamente os passos do seu quarto mandato na presidência do Senado. Com salva de 21 tiros de canhão, ele passou a tropa em revista, dando início aos trabalhos da 54ª Legislatura do Congresso Nacional.

Piada. Tiririca - o deputado federal mais votado do país - resolveu sair de vez do armário. Seu nome de batismo não constará do painel de votação da casa. O parlamentar achou de bom tom utilizar seu nome de guerra circense. Membro do time dos congressistas calouros, o humorista tem planos ousados no plenário. Quer fazer parte da Comissão de Educação da casa. Há duas semanas atrás, o deputado se mostrou otimista com o salário de 24 mil reais. Os congressistas vão perceber o mesmo salário de um ministro do Supremo. O valor corresponde ao teto salarial do serviço público brasileiro.

Justiça. Sangue novo também pulsando nas veias do Supremo. Foi publicado hoje no Diário Oficial da União, a nomeação do juiz Luiz Fux. Ele vai preencher a vaga ociosa de 11º ministro do Supremo Tribunal Federal. O futuro ministro ingressou na magistratura em 1982. Também é professor titular da UERJ. Aprovado em primeiro lugar em ambos os concursos. O jurista é autor de dezessete livros. Fux vai substituir o ministro Eros Grau, aposentado em agosto do ano passado. Com a nomeação do juíz, as votações relativas as questões pendentes sobre os candidatos ficha-suja poderão ser retomadas. É a mão de Minerva pesando sobre os ombros do novo ministro.

Planos. Guiada pelo caduceu de Hermes, a presidente foi entregar a mensagem do Executivo ao Congresso Nacional. Dilma Rousseff salientou alguns velhos fantasmas que assombram o país. Defendeu um pacto nacional contra a miséria. Enfatizou a necessidade de ganhos reais para o salário mínimo brasileiro. Também corroborou a necessidade de priorizar a Reforma Política e Tributária na pauta de votações do Congresso. Agora resta saber se os parlamentares vão honrar de fato a carta de intenções prometidas no pleito eleitoral do ano passado com a dignidade que o cargo merece. Que Iemanjá nos proteja.

31 de janeiro de 2011

Os novos rumos do Oriente

Gustavo Chacra noticia no seu blog que a polícia voltou a patrulhar as ruas da cidade do Cairo. Após sete intensos dias de manifestações, as frentes populares se mantêm firmes no intento de derrubar o presidente egípcio Hosni Mubarak, há três décadas no poder. As manifestações se fortalecem no canal de Suez – estreito que separa a África da Ásia. Hoje todas as linhas de trem do país foram paralisadas pelo governo por tempo indeterminado. Está programado para amanhã (01/02) a maior reunião de militantes, a Marcha do 1 milhão. Espera-se que milhares de egipícios vindos de diversas localidades se concentrem na Praça Tahrir, na cidade do Cairo. Ontem trabalhadores oriundos do canal de Suez - que liga o mar Mediterrâneo ao mar Vermelho - convocaram uma greve geral no território egípcio por tempo indefinido. O chamado é apoiado pelos líderes da Revolução da Juventude.

A rede de televisão Al-Jazera informou ontem (30/1) que pelo menos 150 pessoas já foram mortas desde o início dos protestos na terça-feira passada (25/1), incitada por estudantes que guiaram os passos das manifestações através das redes sociais. O motim popular ganhou corpo com a adesão da classe média que engrossou as diversas fileiras do movimento pró-mudança no Egito. Hoje o último provedor de internet do país em pé foi derrubado pelo governo militar. O ditador também decretou toque de recolher logo após o caos abraçar com força as ruas da cidade, com os massivos protestos ganhando escopo em todo o país. Hoje o presidente Mubarak nomeou dois ministros numa vã tentativa de conquistar a simpatia dos cidadãos egípcios e restabelecer o diálogo.

Após as manifestações ganharem corpo e o caos ferver nas areias quentes do país, o ditador Mubarak anunciou a demissão de todos os ministros de governo. Rapidamente criou o cargo de vice-presidente, inexistente nos últimos 30 anos de seu mandato. Foi no cargo de vice que Mubarak ascendeu no cenário político egípcio em 1975. O presidente Muhammad Anwar Al Sadat foi assassinado em outubro de 1981, durante uma parada militar no Cairo, abrindo as tumbas para Mubarak se acossar do poder. Anwar Al Sadat promulgou o Tratado de Paz com o Estado de Israel após a derrota do Egito na Guerra do Yom Kipur, em 1973, deflagrada pela crise do petróleo que solapou o globo.

Demografia. Praticamente 90% da população se concentra entre o delta fértil do rio Nilo e o canal de Suez – a maior parte do território é formado pelos desertos estéreis. A nação de 81 milhões de pessoas é descendente de grupos étnicos milenares que se mesclaram com árabes, gregos e turcos que povoaram o território em épocas passadas. Metade desse contigente populacional vive em áreas urbanas do território. Aproximadamente 40% do povo egípcio sobrevive com menos de dois dólares por dia, beirando a linha da pobreza extrema. Dois terços da pirâmide etária egípcia é composta por uma população com até 30 anos de idade que anseia por um futuro mais digno para o Egito.

Os índices de inflação, corrupção e desemprego são altíssimos no país. Na intenção de melhorar as condições sociais nessas áreas, a população iniciou os protestos em busca de um governo mais representativo, com a cara da nação. Os egípcios ocupam uma área que corresponde a 5% do território nacional. O Egito é o segundo país mais populoso da África, fica apenas atrás da África do Sul neste quesito. No relatório do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) para 2010, O Egito ocupa a 101ª posição num ranking composto por 169 nacionalidades. Com as novas regras estabelecidas na última edição da pesquisa, o país foi classificado como uma nação de baixo desenvolvimento humano e social.

Geopolítica. A crise que solapa o Egito valorizou o preço do petróleo no mercado mundial. Hoje o barril ultrapassou a casa dos US$ 100 – a maior cotação desde outubro de 2008. O Egito é uma peça importante no xadrez geopolítico do mundo árabe. O governo do ditador Mubarak aliou-se com os últimos cinco governos que passaram pela Casa Branca. Os Estados Unidos fornecem em auxílio militar, 1,3 bilhão de dólares por ano ao Egito. A exploração de petróleo na região remonta a 4.000 anos antes de Cristo. O óleo sempre foi alvo de intensa ganância. As civilizações primitivas do Egito já conheciam algumas propriedes do petróleo e utilizavam o betume (produto extraído do óleo) na pavimentação das ruas e iluminação das casas. O Egito não é um grande produtor de petróleo, mas controla o canal de Suez, rota estratégica na região que faz o elo comercial entre o Golfo Pérsico e a Europa. A OPEP teme que as revoltas ganhem corpo em outras nacionalidades petrolíferas do mundo árabe.

No Egito 90% da população adotou os preceitos religiosos do islamismo sunita. Com as novas tecnologias e as facilidades oferecidas pelas redes sociais, estudantes de toda classe e a classe média do país iniciaram os protestos em prol de reforma consistentes no sistema político e social do Egito. É isso que salta os olhos do mundo. Talvez os manifestantes saiam vitoriosos na sua digna luta por dias melhores. A face tirana de Mubarak está ficando cada vez mais pálida. Os revoltosos persistem com a queda de braço estabelecida com o governo militar. A população sonha com a cabeça teocrática de Mubarak rolando enfraquecida na bandeja reluzente da democracia. Os protestos populares em areias egipcías foram inspirados na Revolução de Jasmim, em Túnis, promovida em dezembro de 2010. O movimento derrubou o general Zine El Abidine Ben Ali que há 23 anos comandava com mãos de ferro uma ditadura na Tunísia.

25 de janeiro de 2011

Casa da Leitura

Hoje é aniversário da cidade de São Paulo, praça urbana mais movimentada e conhecida do Brasil. Não faltariam argumentos para devotar algumas palavras de admiração sobre a terra da garoa do glorioso sambista Adoniran Barbosa. Acredito que muitos mestres e doutores já se empenharam nesta tarefa de esgotar em teses e dissertações,as múltiplas facetas da movimentada metrópole. O maior presente que a cidade ganhou foi reinauguração da primeira biblioteca pública de São Paulo.

Mário de Andrade. Após três anos de reformas na estrutura, a Biblioteca Mário de Andradade - segunda maior do país - reabriu suas portas a visitação. Foram gastos R$ 16 milhões de reais, empreendidos na restauração de móveis antigos, obras raras, reforma nas alas, saguão e sonho antigo de instalar um sistema de refrigeração e climatização. Constam do seu acervo mais de 327 mil obras, das quais 51 mil são obras raras. A diretora da biblioteca, Maria Barbosa de Almeida, explica que, com as reformas, 700 pessoas passaram a circular diariamente a ala circundante, de livre acesso ao público.

O prédio que abriga a Biblioteca Mário de Andrade foi inaugurado em 1943. O poeta foi homenageado com o nome da biblioteca porque foi um dos idealizadores e criadores do Secretária de Cultura da cidade. O poeta também auxiliou na criação da Semana de Arte Moderna de 1922, impulsionada por uma geração de grandes artistas, como o glorioso maestro e compositor Heitor Villa-Lobos e da pintora e desenhista Tarsila do Amaral. O poeta Mário de Andrade faz parte da vangudarda do Movimento Modernista, que trouxe muitas novidades no cenário cultural, artístico e estético do país. O arquiteto Oscar Niemeyer faz parte da segunda geração modernista. Ele é grão-mestre do modernismo na arquitetura brasileira.

Nacional do Rio.
A Biblioteca Nacional, localizada na cidade do Rio de Janeiro é a biblioteca mais bem estruturada do país e possuí o maior acervo bibliotecário da América Latina, com aproximadamente nove millhões de obras sob sua tutela. Ano passado a biblioteca não passou por reformas estruturais, mas nos últimos quatro anos foram implementadas uma série de inovações em comemoração aos 200 anos de sua existência no país através da digitalização de grande parte do acervo de obras raras. Atualmente a Biblioteca Nacional possui o oitavo maior acervo do mundo.

Consta do seu catálogo, uma coleção com 25 mil fotografias e diversos manuscritos doados à biblioteca pelo imperadorDom Pedro II, logo após ter sido exonerado do cargo, com a instauração do regime republicano no país. A única exigência imposta pelo ex-imperador foi que a coleção conservasse o nome da sua esposa, a imperatriz Theresa Christina. Dom Pedro II é o autor das três primeiras fotos captadas em solo tupiniquim.

Mas a pedra filosofal da Biblioteca Nacional foi trazida com a vinda da família real portuguesa, para o Brasil, em 1808. Dom João VI trouxe no seu bojo lusitano, a obra mais antiga da Nacional, a Bíblia de Mogúcia, impressa em 1462, por Johannem Füst, sócio do ourives e tipógrafo Johann Gutemberg pai da imprensa, inventor da prensa com tipos móveis metálicos, que permitiram a reprodução massiva de várias obras que até então eram reproduzidas pelos monges – escribas e copistas - nos mosteiros feudais da Europa Medieval. Com o invento de Gutemberg, abriu-se um novo horizonte para a elaboração de diversas peças gráficas. Os tipos móveis alavancaram a circulação do conhecimento.

Bibliotecas públicas. É sabido que os livros são um ótimo meio de entretenimento, cultura e educação. O que nos falta são bibliotecas públicas bem estruturadas para que as obras passem circular com freqüência nos lares brasileiros. A leitura é uma fuga saudável dos afazeres da rotina. Bibliotecas climatizadas despertam uma gostosa sensação de aconchego aos seus visitantes. Também é notório que várias bibliotecas Brasil afora precisam restaurar sua coleção de obras raras e renovar o acervo para atender a demanda crescente de um publico leitor em constante formação.

Visando estabelecer esse projeto de uma nação imbuída com o anzol das letras e encetada pelo arco mágico das palavras, o sociologo Juca Ferreira, ministro da Cultura do governo anterior, anunciou a criação do programa governamental Mais Cultura para as Bibliotecas Públicas, que a principio busca sanar as dificuldades e deficiências de aproximadamente 300 bibliotecas espalhadas por diversas cidades, com recursos do porte de R$ 30,6 milhões para realizar modernização de equipamentos e instalação dos espaços públicos para a leitura nos municípios.

Em junho de 2010, o Ministério da Cultura publicou no Diário Oficial da União, edital prorrogando o prazo de inscrição no programa para até 15 de julho de 2010. As prefeituras que efetuaram cadastro e não tiveram suas bibliotecas selecionadas no primeiro lote do programa, tiveram até o dia 7 de janeiro deste ano para entrar com recuso. O edital do programa federal foi dividido em três categorias: Apoio a Bibliotecas Municipais; Implantação de Bibliotecas de Bairro; Distritais e/ou Rurais e Apoio a Bibliotecas Acessíveis. As cidades contempladas pelo projeto podem ser vista aqui.

Hábito da Leitura. Fazer do livro um produto acessível todos é a grande missão do jornalista e escritor Galeno Amorim que assumiu a presidência da Fundação Biblioteca Nacional, no dia 24 de janeiro. No governo da presidente Dilma, a fundação ficará responsável pela política pública da leitura e do livro no Brasil. A maior prioridade de Amorim é buscar formas de popularizar o acesso aos livros e outros materiais de leitura. O jornalista criou em 2006 o Plano Nacional do Livro e da Leitura.

A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, promovida pelo Instituto Pró-Livro em 2008, revela que a média de leitura do brasileiro está melhorando gradativamente. Os dados apontam que, na média, lemos 4,7 livros por ano. Os custos de produção das obras ainda é um grande obstáculo para a circulação e disseminação dos livros nas camadas mais populares. O jornalista foi incubido pela batuta da ministra Cultura, Ana de Hollanda, a preparar o terreno para a criação do Instituto Nacional do Livro e da Leitura

Mas de nada vale a beleza de datas históricas, o apoio de grandes nomes e o auxílio de programas governamentais se o hábito da leitura não for inserido e estimulado principalmente pela família, responsável pela nossa educação primária. A nossa auto-consciência também pode nos auxiliar nesta tarefa. Os pixels e bits brilhantes da telinha do computador muitas vezes não conseguem mensurar a beleza estética de uma obra impressa. Os livros são a garantia de uma existência plena na face da terra. Só a leitura salva da nebulosidade dos fatos.

24 de janeiro de 2011

Fogo na ponte

Ainda não estamos em época de festas de São João, mas nos céus de Santo Antônio do Descoberto, em Goiás, já há sinal de fumaça. A população ateou fogo numa pilha pneus na ponte local, principal via de acesso à cidade; bloqueando a DF-280, rodovia que liga o município à Brasília. Os moradores estão indignados com a tarifa de R$ 4,75 implementada no transporte municipal. Acidadania, cansada da vida bandida de Golias vivenciada todos os dias no busão, também alvejou com pedras a vidraça do gabinete da prefeitura.

O sinal de fumaça e os estilhaços não foram vistos com bons olhos pelo prefeito David Leite da Silva (PR), que acionou o Grupo de Operações Especiais da Policia Militar de Goiânia para reprimir o Bolero de Satã orquestrado pela trombeta ensurdecedora de 2 mil incandescentes munícipes inflamando os flancos da manifestação com pedras e garrafas.

Os revoltosos foram repelidos com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. Os humores só se acalmaram com a mão divina do padre local, que abriu as portas da Igreja para abrigar os manifestantes – carentes de um ombro público que repare o prejuízo moral que as tarifas lhes causam no bolso –, apaziguando o ímpeto policial e os ânimos da manifestação que, ao que tudo indica, se tornará mais uma causa pagã.

Segundo reportagem do Bom Dia Brasil DF, além das condições precárias das rodovias e do preço exorbitante das tarifas, os moradores que necessitam se deslocar para Brasília, a trabalho, convivem desde o ano de 2009 com rotineiros assaltos a mão armada, realizados à luz do dia no trajeto de 50 km que separa as duas cidades.

O percurso interestadual é realizado por apenas uma única empresa de transporte coletivo. Sobre o preço abusivo do passe, o prefeito lavou as mãos; disse que apenas cumpre rigorosamente a tabela estabelecida pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

23 de janeiro de 2011

O rei da noite

Mestre do jornalismo de boteco, o escritor João Ubaldo Ribeiro completa hoje 70 anos de uma existência marcada pela escrita. Natural da ilha de Itaparica, o cronista baiano é um desses grandes nomes da Literatura que ainda escreve a plenos pulmões para a imprensa brasileira. Ubaldo tem coluna no jornal O Globo e também no O Estado de S. Paulo. Já perdi a conta de quantas vezes tomei o café da manhã na sua companhia.

João Ubaldo é um desses cronistas da velha guarda que conta com algumas bodas na Literatura. Neste gênero acredito que o escritor realmente se destaca dos demais no âmbito literário. Suas crônicas falam sobre as raízes da cultura brasileira com uma simplicidade que consegue abraçar a diversos públicos. Textos permeados pelo jeito manso e a pitada de sarcasmo inerente do seu temperamento baiano. Seu trajeto literário conta com algumas obras de peso na bagagem.

Aos 30 anos ele firmou os passos com um romance de destaque, Sargento Getúlio (1971), o qual a Câmara Brasileira do Livro laureou com o prêmio Jabuti de 1972 na categoria ‘Revelação de Autor’ e posteriormente a obra, em 1983, foi objeto de produção cinematográfica. João Ubaldo editou, em 1984, o romance Viva o Povo Brasileiro, agraciado com o Prêmio Jabuti na categoria ‘Romance’ e também samba-enredo da escola Império da Tijuca no carnaval de 1987.

Aos 52 anos foi convidado a vestir o fardão de imortal e ocupar a 34ª cadeira da Acadêmica Brasileira de letras, em 1993. No ano 2008, Ubaldo foi o oitavo brasileiro agraciado com o Prêmio Camões, considerado a maior honraria concedida a um escritor da Língua Portuguesa. Mas o sucesso é fruto do trabalho incansável do cronista de Itaparica:

“Tenho uma cota de produção diária. Antigamente, eram três laudas de espaço 2, agora, com o computador, são 800 palavras, à maneira americana de contar. Nos Estados Unidos, sempre se usou como unidade de contagem a palavra. Então, tenho uma brincadeira com amigos meus. Por exemplo, Joseph Conrad (escritor britânico de origem ucraniana) escrevia 800 palavras por dia. Aí, eu escrevo pelo menos um Conrad por dia.” (Revista Contigo)

O baiano é um homem de hábitos modestos que usa a vivência diária como inspiração para suas crônicas, degustando a vida através dos pequenos detalhes do cotidiano. Mas já foi um boêmio arretado. Ainda não abandonou o costume de fumar alguns cigarros nos momentos de introspecção, mas o escritor compensa o hábito com caminhadas, vestido de bermuda e camisa curta, empreendidas no calçadão. Afastado do álcool há sete anos, ele não abre mão de um guaraná bem gelado e da conversa sem compromisso com os amigos nos bares do Leblon.

Algumas dessas vivências ele narra no livro O rei da noite (1998), coletânea composta de 34 crônicas que relata a transformação do escritor baiano; um boêmio da velha guarda que tenta levar uma vida de homem saudável. Já li e indico aos marujos dispostos a novos horizontes. O primeiro conto da obra revela porque o talento de João Ubaldo é tão premiado.

Indico também A guerra não vai acabar e Ainda há muito terreno pela frente.